quarta-feira, maio 02, 2007

Milagre do talo de bananeira

Essa aconteceu comigo e foi também no acampamento do projeto Palmeirópolis, sobre o qual já comentei em outros causos. O ano era 1985, se não me falha minha falha memória. Era mês de novembro e havia visitas ilustres na casa, entre os quais um geólogo baiano, que levou um vidrinho de pimenta, vinda não sei de onde. Só sei que essa pimenta me será inesquecível, como se verá adiante.
Até essa data, eu já com 32 anos, sempre tinha convivido amistosamente com minhas hemorróidas. Aquela coisa inevitável, mas que se mantinha num absoluto controle, eu e elas respeitando nossos limites. Pimenta era um desses. Nunca fui de exagerar na dose, embora confesse minha queda irresistível por esse delicioso condimento, trazido para o Brasil, desde priscas eras, por portugueses e negros. Como saborear uma feijoada, uma rabada, uma moqueca, um mocotó, sem a danada? É uma heresia! Mas também não precisa exagerar! É apenas um tempero e não o prato principal.
Pois bem. Na data de que falo, creio que passei do limite ao experimentar a novidade trazida, com foros de especial, pelo meu amigo. Durante o jantar, um arroz tropeiro com carne de sol e caldo de feijão de entrada feito por Tião Cabelo, o cozinheiro do acampamento, devo ter derramado umas duas colheres de chá da dita cuja, curtida num molho de não sei o quê, mas que, com certeza, continha pólvora líquida, pó de urtiga e extrato de água-viva na fórmula. Vai arder assim na juta que partiu!
O fato é que no dia seguinte, amanheci com o que eu poderia traduzir como um “leve ardor anal”, se é que me entendem, ao qual não dei maior importância. Às sete horas já partíamos do acampamento. Como guia dos visitantes, passei oito horas dirigindo um jipe Toyota, por toda a área do projeto, naquele novembro ensolarado do Centro-Oeste brasileiro, a 36 graus de temperatura, elevados a 40 graus dentro do carro. À noite, durante o jantar, o leve ardor da manhã, já era um desconforto acentuado e dolorido. Foi difícil me acomodar nos bancos de tábua do refeitório. Discretamente, refuguei a pimenta, já pressentindo que tinha entrado numa roubada.
No outro dia de manhã, a bomba estourou. As hemorróidas, rompendo nossa convivência amistosa, transbordaram dos seus limites físicos e assumiram o estado que os médicos chamam de “couve-flor”. Um horror! Não tive a mínima condição de acompanhar a segunda jornada dos visitantes. Levaram-me ao médico do posto de saúde da cidade de Palmeirópolis. Sem maiores recursos, para um tratamento efetivo, o Doutor me deu um antiinflamatório, mas a receita de fato foi: IR URGENTE PARA GOIÂNIA.
Minhas opções para esse deslocamento de 500 km eram, ou ir de ônibus, naquele mesmo dia, à noite, ou num Toyota da CPRM, o mais rápido possível. Optei pela segunda hipótese e programei a viagem para o dia seguinte, de madrugada, na ilusão de que, nesse ínterim, o antiinflamatório fizesse efeito e eu nem precisasse ir. Ledo engano. A “couve-flor” se robustecia cada vez mais, com o passar das horas e eu passei o resto dia recolhido, num desconforto indescritível. Nem de pé, nem sentado, nem deitado, de todo jeito doía muito. Somando-se o calor provocado, mais os 36 graus reais do dia de sol a pino, imagino que o inferno não deva ser muito diferente.
Aqui vou abrir um parêntesis, para enfatizar o que significa o ardor provocado pelas hemorróidas inflamadas. Tenho um irmão médico, que me narrou a seguinte descrição de um paciente, certa vez, sobre essa sensação. O paciente teria assim se expressado:
- Olha Doutor, pra resumir a história, o que sinto é como se estivesse sentado em cima de um braseiro e tivesse um filho da puta, com um fole, assoprando por baixo.
Deu pra sentir o drama?
Fechado o parêntesis, retomemos o fio da história.
Naquela época, a sondagem era uma das principais atividades do projeto e como tínhamos inúmeras anomalias para serem checadas, operávamos em turnos ininterruptos de 24 horas. Por isso, havia muitos sondadores no acampamento, para o revezamento nas frentes de perfuração. A turma da noite acordava na hora do almoço e passava a tarde descansando no acampamento. Nesse dia, um sondador de Poços de Caldas, quando soube do meu caso, foi ter comigo no meu barraco.
Muito humilde e educado, pediu desculpas por incomodar meu repouso, mas disse que não poderia se furtar a me recomendar um tratamento para hemorróidas, infalível, que se usa muito na sua terra e que, inclusive, já teria curado muitas pessoas suas conhecidas. O remédio seria simplesmente tiro e queda. Eu, esperançoso, me animei para ouvir logo aquela receita mágica e ele assim resumiu:
- Doutor, sabe aquelas bananeiras que têm ali na beira do “córgo” da casa do Cunha? Pois é... Eu passo a mão num facão bem amolado e nós vamos lá. Pego o tronco mais grosso que tiver, e toro ele de uma facãozada só, bem no talo, lá em baixo. Fica assim uma superfície bem lisinha, feito um banquinho de tora de “árve”. O Senhor tá me entendendo?
Eu tava entendendo sim e começando a imaginar que essa história não ia terminar bem. Mas, deixemos que ele prossiga.
- Então Doutor. Ali naquela superfície onde o facão torou, vai brotar um sumuzinho escuro, uma aguinha meio viscosa danada de medicinal, o Senhor sabia?
Não. Não sabia. Nunca ouvi falar dessa aguinha. Seria pra beber!?
- Aí Doutor, quando acumular bastante líquido e formar aquela pasta escura na superfície do talo cortado, o senhor senta em cima dele e esfrega as partes inflamadas no líquido e deixa encharcar bem. Pronto. É mesmo que tirar com a mão! Adeus hemorróidas!
Fiquei pasmo. Depois de uma receita dessas, o que é que eu poderia dizer? Confesso que levei uns três minutos refletindo e finamente respondi:
-Olha, Seu Fulano (não me lembro mais o nome do meu conselheiro), em primeiro lugar quero agradecer seu interesse pela minha saúde e dizer que não duvido, de jeito nenhum, da eficácia do seu tratamento. Acredito nos casos de cura que o Senhor me relatou e que o sumo do talo de bananeira deve, de fato, operar prodígios sobre as hemorróidas inflamadas. Prometo que vou pensar no assunto.
Ele me olhava, meio desconfiado, esfregando um boné surrado entre as mãos, como se estivesse nervoso.
- Entretanto, prossegui, o Senhor não me leve a mal, mas e se alguém me vir sentado sobre um talo de bananeira, com as calças arriadas, me esfregando nele, em posição suspeita, com o Senhor em pé, do meu lado, segurando um facão? Esse alguém vai acreditar que eu estava apenas “encharcando a couve-flor”? Como é que as pessoas vão entender que se trata de um simples tratamento para hemorróidas? Hem? E minha reputação, como é que fica?
Conversamos mais um pouco, sobre assuntos banais e ele saiu, todo cerimonioso, mas um pouco desapontado, eu percebi. Já na porta, virou-se, como que tentando um derradeiro apelo:
- Ah Doutor! Ia me esquecendo. O sumo da bananeira é muito bom também pra calvície. Se esfregar um pouco na careca, com um mês, nasce cabelo que é uma beleza! Lá em Poços de Caldas tem vários casos comprovados, inclusive com muitos amigos meus.
Quase que o mandei tomar no meio das duas carecas, mas me contive e ele finalmente saiu. E eu fiquei pensando, curioso. Se o método de passar o sumo for o mesmo que ele me receitou, o careca teria de plantar bananeira no talo da bananeira? Confesso que trago essa dúvida comigo até hoje porque não me animei a tirá-la com o dono da receita.
Na madrugada seguinte viajei para Goiânia, num jipe Toyota, deitado de bruços sobre um “colchão” de amostras de solo, por 500 km Quatro dias depois, sofri a primeira, das três cirurgias que tive de fazer, por conta do mesmo problema. Mas aí já é uma outra história.

10 comentários:

Anônimo disse...

caraca que istoria em...
eu conheso o lugar desa istoria ja morei la.

Anônimo disse...

caraca que istoria em...
eu conheso o lugar desa istoria ja morei la.

Anônimo disse...

Caríssimo, procurava eu qualquer receita caseira que desse um mínimo de 'refresco' no meio do FERIADO e acabei topando com teu post. Confesso que o riso, não tão bem-vindo (que tive que segurar pra não chegar à lágrimas - de dor) foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos dias! Sentar no talo da bananeira? Tira com mão? Santo remédio? Bem que eu queria tentar, mas como estou em São Paulo, e aqui não tem bananeiras medicinais com algumas léguas de discrição, deixo meu recado e sigo pro pronto socorro...
Tão logo consiga permanecer sentada diante da geringonça internética, prometo, volto pra ter mais.

Abraço fraterno (e por hora, anônimo)

Anônimo disse...

perdeu a oportunidade de se livrar do problema sem cirurgia. isso funciona menmo, nao precisa assentar na bananeira, é só colher a nodoa oua agua do caule e aplicar com algodao.

Anônimo disse...

eh, meu caro, perdeu a oportunidade de se livrar do problema sem cirurgia. isso funciona mesmo, nao precisa assentar na bananeira, é só colher a nódoa ou a água do caule e aplicar com algodao ou cotonete.

Tânia

9:14 AM

Anônimo disse...

Boa noite,ontem fiz a leitura no blog fiquei muito curioso por estar com problemas de hemorroidas já a alguns dias,a situação e tao desconfortante que busquei a seiva em um lote próximo de casa,fiquei com medo de colocar mais já que as coisas não poderiam piorar introduzi a seiva através de um pedaço de algodão em poucos minutos já foi aliviando e graças a Deus e a este blog melhorei, muito obrigado foi muito bom para mim.
Procurei me informar e a seiva da bananeira e um grande cicatrizante.

Anônimo disse...

Essa receita é muito boa tira com a mão VC perdeu de se tratar sem cirurgia mas não deu importância a fulano !!!!

Anônimo disse...

Vou começar a usar hj

Unknown disse...

Usei não pra estes fins ,e sim pra espinhas que estavam horrível irritadas um dia a pois o outro obtive um excelente resultado.

Unknown disse...

Bom dia... quanto tempe dura esse tratamento?