quinta-feira, outubro 24, 2013

Mestre Tatu

Ontem sonhei com o Tatu
E quando o vi, me assustei
E fiquei pasmo e confuso,
Mas, como sou obtuso, sapequei,
Sutil, como um Brucutu:
- Mas, você não está...?
Ele rindo, debochado, eu insisti:
- Mas, você não está...?
Era um encontro, acho eu,
Estava a Turma toda
E era um fim de tarde e todos já bem tortos,
E ele então, com ar superior:
- Deixe de ser bobo, Baianinho,
Estamos todos mortos...
E mais não disse,
E eu fiquei mais pasmo
E acordei.


E então me deu saudade... Quero falar de Tatu.


Quero falar de um tatu
Que não vai me ler,
Que não vai me ouvir,
Que antecipou a viagem e nos deixou assim...
Deu um truco de mestre.
Vale seis?
Quanto vale?
Vale o choro? Vale o riso?
Não sei...


Lá no sertão de onde eu venho
Há tatu de todo tipo:
Tatuzinho, tatuzão
Tatu-peba, tatu-bola
E tem o maior de todos,
O mais nobre e mais bonito:
O tatu-verdadeiro.
Que me perdoem, contudo,
Os tatus do meu Sertão,
Pois me refiro a um tatu inda mais raro:
O Tatu mestre.
Que passou pela vida ensinando,
Tão sábias lições e tão simples,
Que nos confundimos,
Que nem percebemos um mestre entre nós...
Eu, por exemplo, recordo saudoso.
Sua última aula.
Em Atibaia, quem lembra?
A saúde frágil, as dores contidas,
Os desejos domados,
E, no entanto, entoou um hino à vida,
Abraçou os amigos e sorriu sem queixas,
Brincou, sem lamentos,
Cantou, sem tristeza,
Lembrou, sem chorar,
Divertiu-se, sem culpa,
E se foi alegre,
E deixou no ar a última lição:
Até breve!
Taí... Não aprendeu quem não quis.
Lá no Sertão, quando um amigo
Vê o outro num mandu
Vai logo alertando: - “Amigo,
Não meta a mão nessa toca
Que isto é toca de tatu”
Às vezes fico pensando,
Será que o tatu-mestre se encantou ou se entocou?!
Ou se tropicalizou e entrou numas?!
É... Pode ser, talvez, quem sabe?
Agora o povo da FIFA,
(Vê se pode?)
Quebraram tanto a cachola,
E resolveram eleger
Para símbolo da Copa
Um singelo tatu-bola...
De fato, não vou negar,
Foi uma bela homenagem.
Mas, se era pra ser tatu,
Tinham que falar comigo.
Iam ver com quantos blefes se ganha um pôquer.
Mas, se Inês é morta, meu protesto é vivo:
Tremei homens da FIFA, tremei,
Que um Tatu maior se alevanta
Tatu, com estatura e estampa.
Não um fuleco fuleiro,
Bonequinho rastaquera, de terceira.
Rasga as sendas do mistério, Tatu-mestre,
Bebe a seiva vital dos nossos abraços,
Rompe a cortina de névoa dos espaços,
E mostra pra esse povo que o maior és tu,
Símbolo querido de uma Turma inteira:
Verdadeiro, único e imortal Tatu.
Salvador, Out/2013