segunda-feira, janeiro 27, 2014

Grazie, Don Vanzolini

Nesse final de ano, reconciliei-me com a consciência e organizei minha coleção do Mestre Vanzolini, recuperando, em mp3, centenas de músicas esquecidas em velhos CDs. E de tanto ouvir Vanzolini e de tanto deleitar a alma com seu lirismo paulistano, fazendo-me voltar àquelas geladas madrugadas de garoa, com um drama em cada poste, cada calçada e cada ponto de ônibus... Enfim, de tanto bebericar Vanzolini, entrei no clima e cometi uma singela homenagem ao maior biólogo, dentre todos os poetas que São Paulo já nos deu. Com o devido respeito, naturalmente

Deixa nosso amor morrer em paz,
Que a sentença prolatada é irreversível.
Tu, que o trataste com um desprezo incrível,
Não venhas hoje maltratá-lo mais.
Respeita o sofrimento e a agonia,
Contém o teu sorriso de ironia,
Deixa nosso amor morrer em paz.


Segue tua vida sem olhar pra trás,
Vira a página da tua história.
Saboreia, se te apraz, essa vitória,
E brinda com os falcões, em taças de cristais.
Pelos salões suntuosos de fumaças densas,
Deixaste um rastro de dores imensas,
Agora segue em frente, sem olhar pra trás


Poupa-te o choro... É tarde demais.
Nosso amor é um corpo moribundo.
Não desperdiça, aqui, nem um segundo
Com tuas vãs palavras, insentidos ais.
Se queres mesmo fazer algo agora,
Fica em silêncio, apenas... Vá embora.
Poupa-me o choro... É tarde demais.


E vamo que vamo! Hei de achar meu cais.
Tropeço e queda fortalecem o homem
E se dores e traições o consomem,
Do horizonte acenam bons sinais.
Don Vanzolini ensinou:  volta por cima!
Mostrou que ontem com amanhã não rima.
Grazie, meu mestre... Hei de achar meu cais.

Jan/2014