Jair Arão, nome fictício, foi um grande amigo que tive em Goiânia, quando ali trabalhei. Apesar de ele ser bem mais velho, criamos forte laço de amizade. Por coincidência, nos separamos das nossas primeiras esposas, na mesma época e esse fato nos uniu ainda mais, porque trocávamos muitas idéias, um ajudando o outro. Já foi pro andar de cima, nos deixando aqui nesse vale de lágrimas. Senti muito sua partida. Fiz parte do seu rol de amigos e isso muito me honra.
Adorava o mês de dezembro porque, segundo ele, nesse mês, pode-se beber todos os dias, sem precisar de pretexto. Ser dezembro, já era um bom motivo para beber, mesmo que numa segunda-feira de meu Deus. Essa era uma de suas máximas.
Tinha um olho de vidro, mas, pelo menos enquanto não bebia, enxergava melhor que qualquer cristão. Certa vez, foi vistoriar as obras do projeto Natividade, pesquisa de ouro que chefiei por alguns anos, no nordeste de Goiás. Se não me falha a memória, esse fato se deu em 1988. A sede do projeto era um acampamento que montamos a 15 km da cidade, bem no centro das áreas de pesquisa. Dois barracos-dormitórios, uma cozinha, escritório e um cubículo com vaso sanitário adaptado, sobre fossa manual, para as necessidades fecais.
Jair chegou num sábado à tarde. À noite, como de costume, fomos para a cidade, levar os peões para a folga semanal e tomar umas cervejas, que ninguém é de ferro. Eu voltei bem cedo, porque tinha trabalho de campo no domingo e o Jair, com um outro geólogo do projeto, por lá ficaram, dando uma esticada.
Por volta das quatro da matina, ainda noite fechada, desperto com o barulho da turma chegando. Jair, após exagerar nos tira-gostos, voltou com uma tremenda disenteria. Ficou uns cinco minutos procurando papel, mas não achou. Nesse ínterim, sua lanterna acabou as pilhas e ele ficou resmungando baixinho, no escuro. Realmente sua situação era de certa, digamos, urgência. Assim que o motorista e os técnicos se recolheram, ele veio tateando até meu catre e me perguntou por uma lanterna, pois precisava ir ao vaso sanitário. Eu dei-lhe uma vela e fósforos e, sem me levantar, expliquei que a casa do vaso era no fim do acampamento, a última construção. Como a noite era muito escura, arrematei:
- Não tem erro. Aonde você vir algo branco se destacando no escuro, é o vaso.
Além de não conhecer ainda a geografia do acampamento, ele tinha tomado umas e, nesses casos, a visão, já reduzida, se deteriorava ainda mais.
O coitado saiu com a velinha na mão, mas sua pressa no andar, provocou vento que logo a apagou, mas ele resolvera procurar assim mesmo, lembrando-se do “vulto branco” e sem tempo a perder com fósforos.
Dali a pouco, só escuto a correria no dormitório dos técnicos, as risadas e os reclamos:
- Puta que pariu! Quase foi em cima de mim!
Adorava o mês de dezembro porque, segundo ele, nesse mês, pode-se beber todos os dias, sem precisar de pretexto. Ser dezembro, já era um bom motivo para beber, mesmo que numa segunda-feira de meu Deus. Essa era uma de suas máximas.
Tinha um olho de vidro, mas, pelo menos enquanto não bebia, enxergava melhor que qualquer cristão. Certa vez, foi vistoriar as obras do projeto Natividade, pesquisa de ouro que chefiei por alguns anos, no nordeste de Goiás. Se não me falha a memória, esse fato se deu em 1988. A sede do projeto era um acampamento que montamos a 15 km da cidade, bem no centro das áreas de pesquisa. Dois barracos-dormitórios, uma cozinha, escritório e um cubículo com vaso sanitário adaptado, sobre fossa manual, para as necessidades fecais.
Jair chegou num sábado à tarde. À noite, como de costume, fomos para a cidade, levar os peões para a folga semanal e tomar umas cervejas, que ninguém é de ferro. Eu voltei bem cedo, porque tinha trabalho de campo no domingo e o Jair, com um outro geólogo do projeto, por lá ficaram, dando uma esticada.
Por volta das quatro da matina, ainda noite fechada, desperto com o barulho da turma chegando. Jair, após exagerar nos tira-gostos, voltou com uma tremenda disenteria. Ficou uns cinco minutos procurando papel, mas não achou. Nesse ínterim, sua lanterna acabou as pilhas e ele ficou resmungando baixinho, no escuro. Realmente sua situação era de certa, digamos, urgência. Assim que o motorista e os técnicos se recolheram, ele veio tateando até meu catre e me perguntou por uma lanterna, pois precisava ir ao vaso sanitário. Eu dei-lhe uma vela e fósforos e, sem me levantar, expliquei que a casa do vaso era no fim do acampamento, a última construção. Como a noite era muito escura, arrematei:
- Não tem erro. Aonde você vir algo branco se destacando no escuro, é o vaso.
Além de não conhecer ainda a geografia do acampamento, ele tinha tomado umas e, nesses casos, a visão, já reduzida, se deteriorava ainda mais.
O coitado saiu com a velinha na mão, mas sua pressa no andar, provocou vento que logo a apagou, mas ele resolvera procurar assim mesmo, lembrando-se do “vulto branco” e sem tempo a perder com fósforos.
Dali a pouco, só escuto a correria no dormitório dos técnicos, as risadas e os reclamos:
- Puta que pariu! Quase foi em cima de mim!
- Quem foi o corno que fez uma merda dessa?
- Joga esse lençol fora!
- E agora, onde vamos dormir?
A algazarra foi tanta que me levantei.
Jair já tinha voltado e deitado, de roupa e tudo, em seu catre, onde roncava, placidamente.
Com a lanterna, pude ver o que acontecera. De fato, uma merda com M maiúsculo! A primeira coisa "branca" que ele divisou foi o lençol do catre de um dos técnicos, que, por sorte, estava em Goiânia. Chapado como estava, e já nas últimas, ele supôs que aquela coisa branca fosse o vaso. Entrou no barraco, arriou as calças, botou as mãos sobre o joelho e mandou ver sobre a cama alvinha do Dimas. Depois, já aliviado, se limpou, com um monte de estopa de carro e se recolheu. O barulho da “descarga” e o odor que se seguiu acordaram até quem tinha chegado meio mamado.
Imediatamente pegamos lençol e colchão, levamos para bem longe do acampamento e queimamos. Depois, desinfetamos o barraco com criolina e desarmamos o catre de madeira. Nisso, já era dia feito. Como o “cheiro” não passara de todo, resolvi começar minha jornada mais cedo. A turma que não tinha campo se mandou para cidade. Fazer o quê?
Ao acordar, por volta do meio-dia, Jair não se lembrou de nada. Nunca comentamos o assunto em sua presença e ele partiu pro andar de cima sem saber que um dia pisara na M com os dois pés. Afinal, quem já não fez isso algum dia, em algum lugar?
- Joga esse lençol fora!
- E agora, onde vamos dormir?
A algazarra foi tanta que me levantei.
Jair já tinha voltado e deitado, de roupa e tudo, em seu catre, onde roncava, placidamente.
Com a lanterna, pude ver o que acontecera. De fato, uma merda com M maiúsculo! A primeira coisa "branca" que ele divisou foi o lençol do catre de um dos técnicos, que, por sorte, estava em Goiânia. Chapado como estava, e já nas últimas, ele supôs que aquela coisa branca fosse o vaso. Entrou no barraco, arriou as calças, botou as mãos sobre o joelho e mandou ver sobre a cama alvinha do Dimas. Depois, já aliviado, se limpou, com um monte de estopa de carro e se recolheu. O barulho da “descarga” e o odor que se seguiu acordaram até quem tinha chegado meio mamado.
Imediatamente pegamos lençol e colchão, levamos para bem longe do acampamento e queimamos. Depois, desinfetamos o barraco com criolina e desarmamos o catre de madeira. Nisso, já era dia feito. Como o “cheiro” não passara de todo, resolvi começar minha jornada mais cedo. A turma que não tinha campo se mandou para cidade. Fazer o quê?
Ao acordar, por volta do meio-dia, Jair não se lembrou de nada. Nunca comentamos o assunto em sua presença e ele partiu pro andar de cima sem saber que um dia pisara na M com os dois pés. Afinal, quem já não fez isso algum dia, em algum lugar?
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