terça-feira, maio 15, 2007

A execução

Circunstância fatal me trouxe aqui.
Fiz tudo pra evitar... Luta perdida.
A Deus entrego agora, meu destino.
Resignado e mudo, em apatia,
Percorro corredores, com emoção,
Frágil, conduzido em mãos alheias,
E adentro, por fim, a sala fria...

Num instante, dá o impulso de fugir
E cometer uma loucura, um desatino,
Mas contenho o pensamento em confusão
E me reprimo: - “És um homem! Que receias?”
No entanto, olhar em volta me convence:
- “Minha vida não depende mais de mim...”
A vida é um mistério... Uma ilusão.

Estranhos mascarados me contemplam,
Indiferentes e operosos e gentis,
Cada qual em seu labor, enfim.
-“Esquece a morte, homem! Ore! Pense!”
Finjo, procuro demonstrar coragem,
Mas sinto mil facadas, qual faquir.
-"Meu Deus! Será que morrer é assim?"
Os mascarados riem, quais guris.

A calma serena que aparento ter
Reprime o medo vergonhoso de morrer
E o esforço sobre-humano pra não ter vertigem.
Recebo ordens e obedeço, altivo,
Lembrando as orações que sei, da Virgem.
Mas quando o objeto penetrante
Lanceou, sem dó, a fresta da coluna,
Desabei... Senti chegada, enfim, a hora.
E me prostrei, tremendo e ofegante,
Na nuca, o peso de cruel borduna.

Amparado, me puseram em posição.
-“Tudo vai se consumar agora...”
A equipe executora aproximou...
Tomou-me um calafrio... O ar fugia...
Lembrei-me dos meus filhos, que sofriam.
Lembrei-me dos meus pais, em agonia
E vi o rosto, em oração, do meu amor.
Letargia foi, aos poucos, me tomando...
Até que a lâmina rasgou-me fundo a carne
E a cirurgia, finalmente começou.

Brasília, abril/2007

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