O Professor, titular de importante Secretaria do MME, tinha sempre uma agenda extremamente cheia, mas era seu compromisso atender a todos, de qualquer maneira. Jamais deixava de receber alguém, mesmo que isso, às vezes, lhe obrigasse a participar de duas reuniões ao mesmo tempo, fora os telefonemas, que ele fazia questão de atender pessoalmente. Certo dia, por exemplo, para não causar desfeita, recebeu em seu gabinete, sem prévio agendamento, um grupo de irados garimpeiros, que vieram reclamar ação do governo, para resolver o problema de Serra Pelada. Naquele mesmo horário, havia o compromisso agendado de participar, com o chefe de gabinete do Ministro, de reunião com uma ONG de defesa do São Francisco, que vinha protestar contra o projeto de transposição, exigindo uma posição do MME.
Para atender os dois grupos, o Professor abriu o encontro com os garimpeiros e ouviu o pleito principal, que era a regularização dos títulos, definitivamente, para os pequenos mineradores, como eles se auto-intitulam. Após isso, deixou seu Adjunto comandando as discussões e foi ao 8º andar, onde só esperavam por ele para iniciar a reunião com a ONG. Os ambientalistas xiitas queriam, porque queriam, que o governo suspendesse o projeto de transposição, até se fazer a revitalização do rio, abrindo um grande diálogo com a sociedade, e bla-bla-bla. Aquele discurso que o Professor estava cansado de ouvir.
Após ficar uns 15 minutos na reunião, pede licença e desce para ver como vai a reunião com os garimpeiros. Lá, a coisa estava feia, porque o Adjunto queria que o pessoal entendesse que havia um código de mineração a ser seguido, que a solução não poderia ser tão rápida como todos gostariam, e tome bla-bla-bla. Os garimpeiros babavam pra cima do Adjunto. O Professor ficou uns 10 minutos, acalmou a turba e subiu novamente. Lá, também, o tempo estava quente, pois os ambientalistas não aceitavam os argumentos de que estudos técnicos do governo indicavam a viabilidade da transposição, com alguns cuidados e tome mais bla-bla-bla.
Bom, o fato é que, nesse vai e vem, o Professor ficou quase duas horas, subindo e descendo, ouvindo um grupo, ouvindo o outro, mas era chegada a hora de afunilar as discussões e emitir as posições finais do MME para os dois casos. Já meio zonzo de tanto subir e descer, o Professor cruza, à porta do elevador, com um séqüito de uma dezena de sindicalistas, liderados por um Deputado topetudo, da base aliada. Querem saber como o Ministério vai conduzir a questão dos mineiros de Criciúma, uma bomba prestes a explodir, com grave desgaste para o Governo. Lá se foram preciosos 15 minutos. Após se livrar do ilustre Deputado, o Professor, ao invés de tomar o elevador para subir ao 8º andar, retorna para a reunião dos garimpeiros, de onde tinha acabado de sair. Por essa pequena confusão, vai pagar um grande mico.
Com aquela segurança imposta pela autoridade do cargo, o Professor resolve marcar firme posição contra o xiitismo da ONG ambientalista, e assim se dirige aos garimpeiros:
- Muito bem meus senhores. Após ouvir os argumentos de Vossas Senhorias e muito ponderar e levando em conta o interesse maior da sofrida população nordestina, o governo está convicto de que o projeto é viável e será feito, de acordo com o que recomendam os estudos técnicos. Os senhores podem ficar tranqüilos que suas justas preocupações de sustentabilidade serão plenamente atendidas.
O Adjunto ficou estupefato. Os garimpeiros não acreditavam no que ouviam e já ensaiavam já carregar o Professor nos braços, quando o líder do grupo pede silêncio e a palavra:
- Meus amigos, esse é um momento histórico da nossa luta. Momento em que consolidamos uma reivindicação de 20 anos, graças à sensibilidade do Professor que, prontamente reconheceu nossos legítimos direitos e ainda agregou ao projeto compromissos com a sua sustentabilidade. Agora Professor, que mal lhe pergunte, que diabos tem a ver a “sofrida população nordestina” com nosso pleito de Serra Pelada?
Nesse momento o Professor viu o mico da troca de reunião. Cochichou um pouquinho no ouvido do Adjunto, mas não perdeu a fleuma, no estilo dos velhos políticos mineiros:
- Com isso, Senhores, quero prestar uma singela homenagem aos milhares de migrantes nordestinos que representam 90% dos garimpeiros de Serra Pelada. Nada mais do que nossa obrigação lembrar, nesse momento solene, o sacrifício desses queridos irmãos.
A sala quase veio abaixo de aplausos, gritos e vivas. Alguns tinham os olhos marejados. Um senhor, de basta cabeleira branca, não se cansava de repetir:
- Isso é que é brasileiro! Esse homem devia ser um Deputado!
E por fim, antes que a reunião fosse dada por encerrada, pediu atenção para suas últimas palavras, inspiradas nos lídimos mineiros da UDN:
- Para encerrar esse encontro bastante proveitoso, quero reafirmar que a posição desse Ministério será sempre a que for melhor para os garimpeiros, melhor para a sociedade e melhor para o Brasil (foi interrompido pelos aplausos).
- Nesse sentido, continuou, submeteremos esse pleito aqui por nós aprioristicamente aprovado, à consideração da nossa Consultoria Jurídica. E podem ter a mais cristalina certeza de que, em não havendo nenhum óbice de ordem legal, o nosso Ministro não titubeará um instante sequer e não medirá esforços, na viabilização desse justíssimo pleito, doa a quem doer. Disso, não tenham a menor dúvida.
O Professor só não foi carregado nos braços, porque teve de sair às pressas, pela porta de trás do Gabinete, para encerar a reunião com os ambientalistas. Agora, estava com o discurso na ponta da língua. Ufa!
Para atender os dois grupos, o Professor abriu o encontro com os garimpeiros e ouviu o pleito principal, que era a regularização dos títulos, definitivamente, para os pequenos mineradores, como eles se auto-intitulam. Após isso, deixou seu Adjunto comandando as discussões e foi ao 8º andar, onde só esperavam por ele para iniciar a reunião com a ONG. Os ambientalistas xiitas queriam, porque queriam, que o governo suspendesse o projeto de transposição, até se fazer a revitalização do rio, abrindo um grande diálogo com a sociedade, e bla-bla-bla. Aquele discurso que o Professor estava cansado de ouvir.
Após ficar uns 15 minutos na reunião, pede licença e desce para ver como vai a reunião com os garimpeiros. Lá, a coisa estava feia, porque o Adjunto queria que o pessoal entendesse que havia um código de mineração a ser seguido, que a solução não poderia ser tão rápida como todos gostariam, e tome bla-bla-bla. Os garimpeiros babavam pra cima do Adjunto. O Professor ficou uns 10 minutos, acalmou a turba e subiu novamente. Lá, também, o tempo estava quente, pois os ambientalistas não aceitavam os argumentos de que estudos técnicos do governo indicavam a viabilidade da transposição, com alguns cuidados e tome mais bla-bla-bla.
Bom, o fato é que, nesse vai e vem, o Professor ficou quase duas horas, subindo e descendo, ouvindo um grupo, ouvindo o outro, mas era chegada a hora de afunilar as discussões e emitir as posições finais do MME para os dois casos. Já meio zonzo de tanto subir e descer, o Professor cruza, à porta do elevador, com um séqüito de uma dezena de sindicalistas, liderados por um Deputado topetudo, da base aliada. Querem saber como o Ministério vai conduzir a questão dos mineiros de Criciúma, uma bomba prestes a explodir, com grave desgaste para o Governo. Lá se foram preciosos 15 minutos. Após se livrar do ilustre Deputado, o Professor, ao invés de tomar o elevador para subir ao 8º andar, retorna para a reunião dos garimpeiros, de onde tinha acabado de sair. Por essa pequena confusão, vai pagar um grande mico.
Com aquela segurança imposta pela autoridade do cargo, o Professor resolve marcar firme posição contra o xiitismo da ONG ambientalista, e assim se dirige aos garimpeiros:
- Muito bem meus senhores. Após ouvir os argumentos de Vossas Senhorias e muito ponderar e levando em conta o interesse maior da sofrida população nordestina, o governo está convicto de que o projeto é viável e será feito, de acordo com o que recomendam os estudos técnicos. Os senhores podem ficar tranqüilos que suas justas preocupações de sustentabilidade serão plenamente atendidas.
O Adjunto ficou estupefato. Os garimpeiros não acreditavam no que ouviam e já ensaiavam já carregar o Professor nos braços, quando o líder do grupo pede silêncio e a palavra:
- Meus amigos, esse é um momento histórico da nossa luta. Momento em que consolidamos uma reivindicação de 20 anos, graças à sensibilidade do Professor que, prontamente reconheceu nossos legítimos direitos e ainda agregou ao projeto compromissos com a sua sustentabilidade. Agora Professor, que mal lhe pergunte, que diabos tem a ver a “sofrida população nordestina” com nosso pleito de Serra Pelada?
Nesse momento o Professor viu o mico da troca de reunião. Cochichou um pouquinho no ouvido do Adjunto, mas não perdeu a fleuma, no estilo dos velhos políticos mineiros:
- Com isso, Senhores, quero prestar uma singela homenagem aos milhares de migrantes nordestinos que representam 90% dos garimpeiros de Serra Pelada. Nada mais do que nossa obrigação lembrar, nesse momento solene, o sacrifício desses queridos irmãos.
A sala quase veio abaixo de aplausos, gritos e vivas. Alguns tinham os olhos marejados. Um senhor, de basta cabeleira branca, não se cansava de repetir:
- Isso é que é brasileiro! Esse homem devia ser um Deputado!
E por fim, antes que a reunião fosse dada por encerrada, pediu atenção para suas últimas palavras, inspiradas nos lídimos mineiros da UDN:
- Para encerrar esse encontro bastante proveitoso, quero reafirmar que a posição desse Ministério será sempre a que for melhor para os garimpeiros, melhor para a sociedade e melhor para o Brasil (foi interrompido pelos aplausos).
- Nesse sentido, continuou, submeteremos esse pleito aqui por nós aprioristicamente aprovado, à consideração da nossa Consultoria Jurídica. E podem ter a mais cristalina certeza de que, em não havendo nenhum óbice de ordem legal, o nosso Ministro não titubeará um instante sequer e não medirá esforços, na viabilização desse justíssimo pleito, doa a quem doer. Disso, não tenham a menor dúvida.
O Professor só não foi carregado nos braços, porque teve de sair às pressas, pela porta de trás do Gabinete, para encerar a reunião com os ambientalistas. Agora, estava com o discurso na ponta da língua. Ufa!
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