terça-feira, janeiro 23, 2007

O Enterro do Anjinho

Dim! dim-dim!
Lá vai o enterro do anjinho!
Um menino carrega o caixãozinho
Quem será? Na certa um irmãozinho,
Resignado e mudo, o pobrezinho.

Dim! dim-dim!
Lá vai o enterro do anjinho!
Na rabeira do grupo, o pai, sozinho,
Imagina seu filho um passarinho
Que voou, fugiu do ninho.

Dim! dim-dim!
Lá vai o enterro do anjinho!
Dão-lhe flores e preces no caminho.
Da mãe, a andar de vagarinho,
Vejo água, dos olhos, nos cantinhos.

Dim! dim-dim!
Lá vai o enterro do anjinho!
Do balcão, lá no fundo do armarinho,
O pau-d’água, em protesto toma um vinho:
- “Por que Deus leva o pobre tão cedinho?”

Dim! dim-dim!
Lá vai o enterro do anjinho!
- “De que vale viver um minutinho?”
- “Qual o sentido, levar o coitadinho,
Sem provar dessa vida, seu gostinho?”

Dim! dim-dim!
Lá vai o enterro do anjinho!
Sobre um leito de argila, bem rasinho,
Repousam, entre flores, seu corpinho
E a mãe-terra lhe abraça com carinho.

Dim! dim-dim!
Acabou-se o enterro, o burburinho!
Tudo volta ao normal e o ser mesquinho
Não ouviu a voz de Deus naquele anjinho,
Nem reflete porque existem flor e espinho.
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(Poesia escrita em 1992, após ver passar o cortejo fúnebre de uma criancinha, numa vila do interior do Maranhão, sob o badalar plangente de um sino choroso. Me acudiram as palavras de Jesus: "Deixem que os mortos cuidem de seus mortos!")

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