quinta-feira, janeiro 25, 2007

Águas de Junho

Eis que o temporal caiu,
Encharcando tudo, a alma,
A vida, as ruas da cidade calma,
Até que o trovão bramiu.
E então, da bruma de chumbo
Do céu da tarde de junho
O anjo triste surgiu:

"Mundo, mundo sem porteiras!
Dos valores das carteiras!
Que nem pára pra chorar as mágoas.
Meu Senhor, condoído de pena,
Rasgou o véu dessa tarde amena,
Pra que te laves e te limpes nessas águas.
Mundo de homens aflitos,
Frágeis homens com seus gritos,
Quanto mais notas, mais nódoas..."


Por sobre a nuvem sombria,
Moldura da tarde fria,
Um rasgo de luz se viu.
Ao fundo, um anjo de ar grave,
Soturno, agourenta ave,
Riu, tristemente, e subiu.
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(Poesia escrita em set/2003, Brasília. A grande pergunta é: A água lava moral suja? Parece que de vez em quando Deus tenta lavar esse mundo podre)

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