Sangue italiano, Giovanni* sempre arrumava discussões acaloradas nos jogos de futebol ou vôlei, que fazíamos nos finais de semana, na quadra da ASSEME (Associação dos Empregados do Ministério de Minas e Energia), uma chácara nos arredores de Goiânia, freqüentada pelos empregados da CPRM, RADAM, Docegeo, DNPM e Nuclebrás. O Pessoal da Metago era convidado especial e sempre se fazia presente.
Mas eram discussões que não ultrapassavam a areia da quadra e terminavam invariavelmente, em gostosas risadas, entre copos de cerveja e tira-gostos do Ademar - carne de sol ou picanha fatiada. Enfim, tudo era motivo de comemoração. Até que...
Numa segunda-feira, antes de oito horas, ao chegar ao trabalho, encontrei em minha mesa um bilhete da telefonista. Dizia que o Dr. Giovanni ligara e pedira para eu ir encontrá-lo ali nas proximidades, esquina de duas ruas conhecidas. Intrigado, corri ao local, não atinando com o que poderia ser. Por que ele não fora à minha sala? Na verdade, não o via desde sábado, porque no domingo, não tinha ido à ASSEME.
Mas logo o mistério se desfez. Entre constrangido e arrependido, ele me contou que tinha brigado com o Tiago*, um engenheiro da CPRM, no jogo de vôlei e, no calor da discussão, dera um murro na boca do pobre, que quebrou dentes e causou sérios problemas, obrigando-o a ir a um hospital. Mostrou-me também sua mão enfaixada, conseqüência da lei de ação e reação. Fiquei pasmo, sem saber o que dizer.
-Muito bem. Já está feito. E agora? O que quer que eu faça? Disse-lhe, após lhe recriminar o comportamento, lembrando da harmonia que sempre reinou na ASSEME e do ambiente sadio de trabalho que sempre mantivemos.
Sabem o que ele queria? Que eu sondasse o Tiago, para ver se havia espaço para uma reconciliação, um encontro de pedido de desculpas, ou algo que o valha. Inclusive se dispôs a quitar as despesas havidas no atendimento de emergência.
Ponderei que achava difícil. Primeiro, porque a coisa estava ainda muito recente e segundo porque o Tiago também era um paulista esquentado, todos sabiam. Não ia perdoar assim, sem mais nem menos. Enfim, prometi-lhe usar toda minha capacidade de persuasão, mas deixei claro minha opinião:
-Dessa vez, italiano, pisaste na merda com os dois pés!
Ele ficou esperando e eu fui lá, tentar o impossível. Tiago não tinha chegado. Fiquei sabendo que ele não iria trabalhar naquela manhã. Como morava ali perto, telefonei e ele se prontificou a me receber. Mas vi, pela sua dificuldade de articular as palavras, que o caso fora sério. Aconselhei Giovanni a aguardar o desfecho em casa, por precaução.
Realmente, o estrago tinha sido considerável. Era lastimável o estado da boca do colega. Após gastar toda minha diplomacia, o Tiago me disse que também estava bastante envergonhado e arrependido, mas não tinha a menor condição de um conversa por enquanto, com seu agressor. E, para o bem de ambos, me pediu para dar o seguinte recado ao italiano:
-Fale praquele fdp que eu não vou sair por aí atrás dele pra me vingar. Pode ficar sossegado. Mas, pelo bem que ele tem a sua família, não cruze a minha frente. Faça de tudo para não se encontrar comigo. Eu farei o mesmo. Caso contrário, não me responsabilizo por minha reação. Pelo menos por um mês.
Dado o recado, escoltei o Giovanni até sua sala e por uns bons tempos, ficamos assim. Como ele e Tiago trabalhavam em casas separadas (a SUREG ocupava quatro casas), não foi muito difícil cumprir o trato. Ambos evitavam circular e quando o faziam, amigos iam juntos para intervir em qualquer imprevisto. Também deixaram de freqüentar a Associação nos fins de semana.
Pouco tempo depois, não sei se por isso ou não, o Tiago pediu demissão.
A roda do tempo girou e levou o italiano para o andar de cima. Tiago trabalhou em algumas empresas e depois voltou à CPRM. Não sei se os dois fizeram as pazes. Não me consta. Mas sei que não houve nenhum tira-teima.
Giovanni sempre se referia a esse episódio como uma das grandes besteiras de sua vida. Um erro que ele não teve tempo de reparar. Pensando nesse causo, vejo como é sábio o ditado da minha terra que diz que os pecados de domingo, quem paga é segunda-feira. Dito e feito.
Mas eram discussões que não ultrapassavam a areia da quadra e terminavam invariavelmente, em gostosas risadas, entre copos de cerveja e tira-gostos do Ademar - carne de sol ou picanha fatiada. Enfim, tudo era motivo de comemoração. Até que...
Numa segunda-feira, antes de oito horas, ao chegar ao trabalho, encontrei em minha mesa um bilhete da telefonista. Dizia que o Dr. Giovanni ligara e pedira para eu ir encontrá-lo ali nas proximidades, esquina de duas ruas conhecidas. Intrigado, corri ao local, não atinando com o que poderia ser. Por que ele não fora à minha sala? Na verdade, não o via desde sábado, porque no domingo, não tinha ido à ASSEME.
Mas logo o mistério se desfez. Entre constrangido e arrependido, ele me contou que tinha brigado com o Tiago*, um engenheiro da CPRM, no jogo de vôlei e, no calor da discussão, dera um murro na boca do pobre, que quebrou dentes e causou sérios problemas, obrigando-o a ir a um hospital. Mostrou-me também sua mão enfaixada, conseqüência da lei de ação e reação. Fiquei pasmo, sem saber o que dizer.
-Muito bem. Já está feito. E agora? O que quer que eu faça? Disse-lhe, após lhe recriminar o comportamento, lembrando da harmonia que sempre reinou na ASSEME e do ambiente sadio de trabalho que sempre mantivemos.
Sabem o que ele queria? Que eu sondasse o Tiago, para ver se havia espaço para uma reconciliação, um encontro de pedido de desculpas, ou algo que o valha. Inclusive se dispôs a quitar as despesas havidas no atendimento de emergência.
Ponderei que achava difícil. Primeiro, porque a coisa estava ainda muito recente e segundo porque o Tiago também era um paulista esquentado, todos sabiam. Não ia perdoar assim, sem mais nem menos. Enfim, prometi-lhe usar toda minha capacidade de persuasão, mas deixei claro minha opinião:
-Dessa vez, italiano, pisaste na merda com os dois pés!
Ele ficou esperando e eu fui lá, tentar o impossível. Tiago não tinha chegado. Fiquei sabendo que ele não iria trabalhar naquela manhã. Como morava ali perto, telefonei e ele se prontificou a me receber. Mas vi, pela sua dificuldade de articular as palavras, que o caso fora sério. Aconselhei Giovanni a aguardar o desfecho em casa, por precaução.
Realmente, o estrago tinha sido considerável. Era lastimável o estado da boca do colega. Após gastar toda minha diplomacia, o Tiago me disse que também estava bastante envergonhado e arrependido, mas não tinha a menor condição de um conversa por enquanto, com seu agressor. E, para o bem de ambos, me pediu para dar o seguinte recado ao italiano:
-Fale praquele fdp que eu não vou sair por aí atrás dele pra me vingar. Pode ficar sossegado. Mas, pelo bem que ele tem a sua família, não cruze a minha frente. Faça de tudo para não se encontrar comigo. Eu farei o mesmo. Caso contrário, não me responsabilizo por minha reação. Pelo menos por um mês.
Dado o recado, escoltei o Giovanni até sua sala e por uns bons tempos, ficamos assim. Como ele e Tiago trabalhavam em casas separadas (a SUREG ocupava quatro casas), não foi muito difícil cumprir o trato. Ambos evitavam circular e quando o faziam, amigos iam juntos para intervir em qualquer imprevisto. Também deixaram de freqüentar a Associação nos fins de semana.
Pouco tempo depois, não sei se por isso ou não, o Tiago pediu demissão.
A roda do tempo girou e levou o italiano para o andar de cima. Tiago trabalhou em algumas empresas e depois voltou à CPRM. Não sei se os dois fizeram as pazes. Não me consta. Mas sei que não houve nenhum tira-teima.
Giovanni sempre se referia a esse episódio como uma das grandes besteiras de sua vida. Um erro que ele não teve tempo de reparar. Pensando nesse causo, vejo como é sábio o ditado da minha terra que diz que os pecados de domingo, quem paga é segunda-feira. Dito e feito.
* Nome fictício
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