Na década de oitenta, com o fim do regime militar, assumiu a presidência da CPRM o Dr. Natalino*. Foi o momento também, em que os movimentos sociais explodiam, especialmente as organizações sindicais. Nesse contexto, surgia a CONAE, fruto de uma mobilização de cinco anos. Nem preciso dizer que passamos a ser o calo do Dr. Natalino, afinal as demandas reprimidas eram muitas e recém estávamos desfrutando a liberdade da plena atuação sindical na Empresa.
Uma das características do novo presidente era que ele detestava dar entrevistas. Vínhamos de duas décadas de ditadura, durante as quais se cristalizou no seio da Administração pública o dogma de que os gestores não tinham satisfações a dar à sociedade. Eles se autoproclamavam acima de qualquer julgamento, que não o da autoridade superior e ponto final. Imprensa, jornalistas... Argh! Que nojo!
Pois bem, surgiu o boato de que o Dr. Natalino preparava uma demissão em massa na CPRM e que os escolhidos para a degola tinham sido transferidos para uma sala especial, no Escritório do Rio de Janeiro, imediatamente apelidada de "Gaiola das Loucas". A notícia chegou a Goiânia nas vésperas da primeira visita que o Presidente faria àquela Unidade. Eu e o Vergílio, meu Secretário na CONAE, ponderamos que precisávamos provocar a discussão e forçar o presidente a desmentir (ou confirmar) o boato. Mas como?! Tentei agendar uma reunião específica (eu era o presidente da CONAE), mas ele negara, dizendo que faria uma reunião geral, com todos os funcionários, onde daria todas as explicações.
Mas não nos entregamos. Redigimos uma "Nota à Imprensa", da CONAE, onde denunciávamos a tentativa de demissão de 300 empregados na Empresa e a fizemos circular, graças a amizades que tínhamos na imprensa local, entre os dois maiores jornais e as três redes de televisão que atuavam na cidade, na tarde que precedeu a chegada do Diretor-Presidente, que veio acompanhado do Diretor de Operações.
A Nota causou impacto porque deixamos no ar a possibilidade de comprometimento das nossas ações no Centro-Oeste, caso as demissões fossem confirmadas e isso, para a imprensa local, era um ponto de honra a esclarecer.
Dia seguinte, 8h00. O saguão do Hotel Bandeirantes, o melhor da cidade na época, 1986, estava repleto de jornalistas e equipamentos de gravação de TV. Quando a porta do elevador se abriu com os dois diretores dentro, os flashes espocaram, os jornalistas se acotovelaram tentando se aproximar. Os diretores ficaram pasmos, pois jamais imaginavam aquela recepção. Completamente sem jeito, o Dr. Natalino primeiro tentou fechar a porta do elevador. Não deu. Vencido, tentou abrir caminho entre os jornalistas e fotógrafos, para fugir, quando a pergunta estourou, alto e bom som:
- Senhor Presidente, o que o Senhor tem a dizer sobre a Gaiola das Loucas do Escritório do Rio de Janeiro?
- O senhor vai demitir mesmo 300 empregados? Quantos vão ser demitidos em Goiânia?
Acossado e sem possibilidade de escape, dado o cerco armado, Dr. Natalino falou por 10 minutos, tudo negando e atribuindo os boatos a tentativas de desestabilizar sua Administração. Falou de abertura, transparência e democracia, palavras mágicas naquela época. Mas não deixou por menos. Acusou forças retrógradas, dentro da Empresa, que lutavam contra esses avanços. Eu e Vergílio a tudo assistíamos, longe das vistas do Presidente, claro. E saboreamos nossa estratégia.
Bom, não preciso dizer o humor do Presidente, na abertura da reunião com os empregados. Na primeira fila, eu e Vergílio. Após nos fuzilar com o olhar, ele abordou a Nota, segundo ele mentirosa, que tínhamos distribuído. Repetiu que tudo não passava de boatos e que não tinha tempo a perder com fofocas sem fundamento. Disse tudo isso sem despregar os olhos de nós dois.
Ainda insistimos numa reunião só coma CONAE, mas ele mandou dizer que não se reunia com irresponsáveis. Desistimos. No outro dia, as manchetes dos jornais com a negativa do Presidente circularam o Brasil inteiro.
Se houve mesmo ou não a "Gaiola das Loucas", não sei. Mas, a partir dali, o assunto foi definitivamente sepultado. E o Diretor-Presidente passou a não mais anunciar suas visitas, com antecedência, optando por chegar apenas com o conhecimento do Superintendente.
Uma das características do novo presidente era que ele detestava dar entrevistas. Vínhamos de duas décadas de ditadura, durante as quais se cristalizou no seio da Administração pública o dogma de que os gestores não tinham satisfações a dar à sociedade. Eles se autoproclamavam acima de qualquer julgamento, que não o da autoridade superior e ponto final. Imprensa, jornalistas... Argh! Que nojo!
Pois bem, surgiu o boato de que o Dr. Natalino preparava uma demissão em massa na CPRM e que os escolhidos para a degola tinham sido transferidos para uma sala especial, no Escritório do Rio de Janeiro, imediatamente apelidada de "Gaiola das Loucas". A notícia chegou a Goiânia nas vésperas da primeira visita que o Presidente faria àquela Unidade. Eu e o Vergílio, meu Secretário na CONAE, ponderamos que precisávamos provocar a discussão e forçar o presidente a desmentir (ou confirmar) o boato. Mas como?! Tentei agendar uma reunião específica (eu era o presidente da CONAE), mas ele negara, dizendo que faria uma reunião geral, com todos os funcionários, onde daria todas as explicações.
Mas não nos entregamos. Redigimos uma "Nota à Imprensa", da CONAE, onde denunciávamos a tentativa de demissão de 300 empregados na Empresa e a fizemos circular, graças a amizades que tínhamos na imprensa local, entre os dois maiores jornais e as três redes de televisão que atuavam na cidade, na tarde que precedeu a chegada do Diretor-Presidente, que veio acompanhado do Diretor de Operações.
A Nota causou impacto porque deixamos no ar a possibilidade de comprometimento das nossas ações no Centro-Oeste, caso as demissões fossem confirmadas e isso, para a imprensa local, era um ponto de honra a esclarecer.
Dia seguinte, 8h00. O saguão do Hotel Bandeirantes, o melhor da cidade na época, 1986, estava repleto de jornalistas e equipamentos de gravação de TV. Quando a porta do elevador se abriu com os dois diretores dentro, os flashes espocaram, os jornalistas se acotovelaram tentando se aproximar. Os diretores ficaram pasmos, pois jamais imaginavam aquela recepção. Completamente sem jeito, o Dr. Natalino primeiro tentou fechar a porta do elevador. Não deu. Vencido, tentou abrir caminho entre os jornalistas e fotógrafos, para fugir, quando a pergunta estourou, alto e bom som:
- Senhor Presidente, o que o Senhor tem a dizer sobre a Gaiola das Loucas do Escritório do Rio de Janeiro?
- O senhor vai demitir mesmo 300 empregados? Quantos vão ser demitidos em Goiânia?
Acossado e sem possibilidade de escape, dado o cerco armado, Dr. Natalino falou por 10 minutos, tudo negando e atribuindo os boatos a tentativas de desestabilizar sua Administração. Falou de abertura, transparência e democracia, palavras mágicas naquela época. Mas não deixou por menos. Acusou forças retrógradas, dentro da Empresa, que lutavam contra esses avanços. Eu e Vergílio a tudo assistíamos, longe das vistas do Presidente, claro. E saboreamos nossa estratégia.
Bom, não preciso dizer o humor do Presidente, na abertura da reunião com os empregados. Na primeira fila, eu e Vergílio. Após nos fuzilar com o olhar, ele abordou a Nota, segundo ele mentirosa, que tínhamos distribuído. Repetiu que tudo não passava de boatos e que não tinha tempo a perder com fofocas sem fundamento. Disse tudo isso sem despregar os olhos de nós dois.
Ainda insistimos numa reunião só coma CONAE, mas ele mandou dizer que não se reunia com irresponsáveis. Desistimos. No outro dia, as manchetes dos jornais com a negativa do Presidente circularam o Brasil inteiro.
Se houve mesmo ou não a "Gaiola das Loucas", não sei. Mas, a partir dali, o assunto foi definitivamente sepultado. E o Diretor-Presidente passou a não mais anunciar suas visitas, com antecedência, optando por chegar apenas com o conhecimento do Superintendente.
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* Nome fictício
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