Anunciaram que o Home vinha visitar o acampamento. Grande alvoroço. Por toda parte se ouvia o bochicho:
- O Home vem aí!
Mandaram consertar a cerca, capinar a área de servidão, limpar o campo, aplainar o estacionamento, pintar os barracos, reparar a estrada de acesso, enfim... O Home ia chegar e tudo teria de estar nos trinques.
Corria, a boca pequena, que o Home era candidato fortíssimo a presidente da Empresa. Tinha de ser tratado a pão-de-ló.
E finalmente ele chegou. Era um domingo. O chefe do projeto, muito amigo do Home, o levou para um churrasco, às margens do Mocambão. Coisa selecionada... Poucos convivas, só os mais chegados.
O Home enfiou o pé na jaca, isto é, na pinga de cabeça, vinda dos alambiques da região, pouco menos que absinto. Me conseguiram um violão e o samba rolou sereno. O Home era bom de batuque. Pegou um espeto e uma frigideira e improvisou curiosa e original marcação.
Lembro-me bem que por volta de 11hs ele começou uma brincadeira de jogar areia no chefe do projeto e este, revidando, acertou um técnico, que jogou um torrão no motorista, que deu um chute na bunda do peão, que acabou enchendo a churrasqueira de terra e o churrasco virou uma zona, todo mundo bêbado e o Home achando a maior graça. Lá pelas tantas, ele puxou outra brincadeira de subir num barranco, deitar-se e rolar para dentro do rio, como um tapete de terra e areia. E todo mundo foi atrás, imitando-o, claro. Quando o óculo dele caiu nas águas sujas do Mocambão, foi um Deus nos acuda. Era bêbado mergulhando às tontas pra todo lado. Teve um que ralou a cara toda nas pedras. Alguns nem sabiam o que estavam procurando. Até que o motorista falou:
- Ih!! Pisei em cima! Senti um creck!
De fato, o óculo do Home virou dois cotocos de pernas, que o motorista pendurou em cada orelha, fazendo gozação. Mas o Home era prevenido e tinha mais dois de reservas. Afinal, ele tinha (ainda tem, na verdade), um grave problema numa das vistas, perdida ainda na juventude, ao que se comenta. Sem óculos, era um cego completo.
O diabo foi que, às 16hs, quando o grupo de bêbados retornou ao acampamento, empanturrado de cachaça, churrasco e areia, o racha dos peões corria solto no campo de terra e o Home cismou de jogar também. Valha-nos Deus! E agora? Colocaram-no de centroavante, mas sem óculos, por segurança. Nem me lembro de onde saíram as chuteiras que lhe arrumaram. Todos se riam muito de suas pernas muito finas. Pareciam dois cambitinhos.
Devido à sua visão monocular, o Home não tinha noção de profundidade acurada e por isso, nunca conseguia acertar a bola, acabando sempre por se esborrachar no chão de terra batida, a cada furada homérica, para deleite dos peões. Até que, após uma queda mais séria, em que seu nariz começou a sangrar, resolveram tirá-lo de campo. Salvo engano, nos 30 minutos em que atuou, ele não conseguiu tocar na bola uma única vez. Salvo engano, claro!
Devidamente medicado pelo paramédico do acampamento, o Home foi dormir sem jantar e sem tomar banho, só acordando na segunda, para início de sua visita oficial.
Na quarta de manhã, já satisfeito com o que vira, o Home resolveu antecipar seu retorno, pois Brasília o aguardava para contatos importantes. De carona, embarcaram o chefe do projeto, este que vos fala e mais dois técnicos que já estavam há mais de 30 dias no campo. Viagem monótona, mais de 500 km, por estradas horrorosas. Para animar o clima, uma pinguinha de cabeça não faria mal a ninguém, menos ao motorista, claro. E o Home, mais uma vez, enfiou o pé na jaca, isto é, na boca da garrafa. Muito criativo, depois do décimo gole, propôs interessante brincadeira: cada um deveria dizer um sinônimo de “vagina”. A vez corria em roda, tipo mesa de baralho e o que demorasse mais de 30 segundos para apresentar um sinônimo, tomaria um gole. E o jogo começou. Ninguém demorava mais de cinco segundos. E foi nome do arco da velha, nome que ninguém nem imaginou que existisse. Quando a dúvida batia, todos tinham de opinar se aceitavam ou não. Tipo um júri. E assim foi.
Até que o repertório foi minguando. Duas horas depois, o primeiro titubeio:
- Peraí... Lembrei! Biri!
- Biri?!! Não, biri não vale!
- Vale sim! Lá na minha cidade é assim que as meninas chamam.
Consultado, o júri aceitou e o jogo prosseguiu. Uma hora depois:
- Chumbica!
- Não! Chumbica é demais! Isso é invenção, onde já se viu comer uma chumbica?
Mas o júri era generoso e acabava aceitando tudo. E assim passou-se toda a tarde e o jogo só acabou quando a terceira e última garrafa secou.
- Ah! Assim o jogo não tem graça!
Também já estava perto da capital e o jogo foi considerado empatado, com todos bêbados e enriquecidos com um vasto acervo vagino-cultural. Pra encerrar a viagem no clima, o Home cantou uma musiquinha em italiano, cuja letra, isto é, a pronúncia, jamais esqueci:
- O Home vem aí!
Mandaram consertar a cerca, capinar a área de servidão, limpar o campo, aplainar o estacionamento, pintar os barracos, reparar a estrada de acesso, enfim... O Home ia chegar e tudo teria de estar nos trinques.
Corria, a boca pequena, que o Home era candidato fortíssimo a presidente da Empresa. Tinha de ser tratado a pão-de-ló.
E finalmente ele chegou. Era um domingo. O chefe do projeto, muito amigo do Home, o levou para um churrasco, às margens do Mocambão. Coisa selecionada... Poucos convivas, só os mais chegados.
O Home enfiou o pé na jaca, isto é, na pinga de cabeça, vinda dos alambiques da região, pouco menos que absinto. Me conseguiram um violão e o samba rolou sereno. O Home era bom de batuque. Pegou um espeto e uma frigideira e improvisou curiosa e original marcação.
Lembro-me bem que por volta de 11hs ele começou uma brincadeira de jogar areia no chefe do projeto e este, revidando, acertou um técnico, que jogou um torrão no motorista, que deu um chute na bunda do peão, que acabou enchendo a churrasqueira de terra e o churrasco virou uma zona, todo mundo bêbado e o Home achando a maior graça. Lá pelas tantas, ele puxou outra brincadeira de subir num barranco, deitar-se e rolar para dentro do rio, como um tapete de terra e areia. E todo mundo foi atrás, imitando-o, claro. Quando o óculo dele caiu nas águas sujas do Mocambão, foi um Deus nos acuda. Era bêbado mergulhando às tontas pra todo lado. Teve um que ralou a cara toda nas pedras. Alguns nem sabiam o que estavam procurando. Até que o motorista falou:
- Ih!! Pisei em cima! Senti um creck!
De fato, o óculo do Home virou dois cotocos de pernas, que o motorista pendurou em cada orelha, fazendo gozação. Mas o Home era prevenido e tinha mais dois de reservas. Afinal, ele tinha (ainda tem, na verdade), um grave problema numa das vistas, perdida ainda na juventude, ao que se comenta. Sem óculos, era um cego completo.
O diabo foi que, às 16hs, quando o grupo de bêbados retornou ao acampamento, empanturrado de cachaça, churrasco e areia, o racha dos peões corria solto no campo de terra e o Home cismou de jogar também. Valha-nos Deus! E agora? Colocaram-no de centroavante, mas sem óculos, por segurança. Nem me lembro de onde saíram as chuteiras que lhe arrumaram. Todos se riam muito de suas pernas muito finas. Pareciam dois cambitinhos.
Devido à sua visão monocular, o Home não tinha noção de profundidade acurada e por isso, nunca conseguia acertar a bola, acabando sempre por se esborrachar no chão de terra batida, a cada furada homérica, para deleite dos peões. Até que, após uma queda mais séria, em que seu nariz começou a sangrar, resolveram tirá-lo de campo. Salvo engano, nos 30 minutos em que atuou, ele não conseguiu tocar na bola uma única vez. Salvo engano, claro!
Devidamente medicado pelo paramédico do acampamento, o Home foi dormir sem jantar e sem tomar banho, só acordando na segunda, para início de sua visita oficial.
Na quarta de manhã, já satisfeito com o que vira, o Home resolveu antecipar seu retorno, pois Brasília o aguardava para contatos importantes. De carona, embarcaram o chefe do projeto, este que vos fala e mais dois técnicos que já estavam há mais de 30 dias no campo. Viagem monótona, mais de 500 km, por estradas horrorosas. Para animar o clima, uma pinguinha de cabeça não faria mal a ninguém, menos ao motorista, claro. E o Home, mais uma vez, enfiou o pé na jaca, isto é, na boca da garrafa. Muito criativo, depois do décimo gole, propôs interessante brincadeira: cada um deveria dizer um sinônimo de “vagina”. A vez corria em roda, tipo mesa de baralho e o que demorasse mais de 30 segundos para apresentar um sinônimo, tomaria um gole. E o jogo começou. Ninguém demorava mais de cinco segundos. E foi nome do arco da velha, nome que ninguém nem imaginou que existisse. Quando a dúvida batia, todos tinham de opinar se aceitavam ou não. Tipo um júri. E assim foi.
Até que o repertório foi minguando. Duas horas depois, o primeiro titubeio:
- Peraí... Lembrei! Biri!
- Biri?!! Não, biri não vale!
- Vale sim! Lá na minha cidade é assim que as meninas chamam.
Consultado, o júri aceitou e o jogo prosseguiu. Uma hora depois:
- Chumbica!
- Não! Chumbica é demais! Isso é invenção, onde já se viu comer uma chumbica?
Mas o júri era generoso e acabava aceitando tudo. E assim passou-se toda a tarde e o jogo só acabou quando a terceira e última garrafa secou.
- Ah! Assim o jogo não tem graça!
Também já estava perto da capital e o jogo foi considerado empatado, com todos bêbados e enriquecidos com um vasto acervo vagino-cultural. Pra encerrar a viagem no clima, o Home cantou uma musiquinha em italiano, cuja letra, isto é, a pronúncia, jamais esqueci:
"Mama, me sinto prenha,
Filha, quem te há prenhato?
Mama, sei um soldato,
Que há sacato a camisola
E há enfiato la pistola.
Ma filha, per que deixato?
Mama, per que gostato.
Filha, agüenta o galho
E daltra volta no te metas com o caralho"
Se o Home veio a ser o presidente da Empresa?! Bem, aí já é outra história. Como dizia um amigo boliviano:
- No le digo si, pero no le digo que no. Quem sabe?
Mas o Home taí, vivinho da silva, pra confirmar tudinho.
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