Não sei se o olho é de cobra,
Não sei se o leite é de cabra,
Não sei se é abracadabra,
Se no escuro o medo medra,
Só sei que não sei de nada.
Se a vizinha é gorda ou magra,
Se o velho toma viagra,
Se cão que morde não ladra
Se vaso ruim não quebra,
Só sei que não sei de nada.
Não sei se a reza é do padre
Ou se o filho é do compadre
Se o azedo é do vinagre,
Se o peixe é dourado ou bagre,
Só sei que não sei de nada.
Não sei nem quero saber
Se a dor vai me surpreender,
Se no amor vou me perder,
Sei lá... se me arrepender,
Se o certo é ser ou não ser,
Se amar é bom se doer,
Não sei nem quero saber
Mas, moço, eu sei tudo dela...
Do arrastar da sua chinela,
Dos seus pés de Cinderela,
Sua cor de cravo e canela,
Seu moço, eu sei tudo dela.
Sei o cheiro do seu beijo,
Sei o gosto do seu cheiro.
Sua língua é puro tempero
Temperando meu desejo.
Seu olhar é feiticeiro
Seu rosto é tudo que vejo.
Os cachos dos seus cabelos
Parecem macios lençóis,
Ondas de mil caracóis
Na praia dos meus desvelos,
Onde eu enrosco meus dedos,
Cochichando mil segredos.
Seus olhos são de um negrume!
Duas bolas de betume,
Que me atraem como a luz
Que à mariposa seduz.
No imã desse pretume
Me enfeitiço, fico mudo,
Feito estátua, feito escudo.
É isso que eu sei, seu moço,
Nada mais quero saber.
Bom mesmo é sentir o gosto
Das frutinhas mussambê
Do enrosco do seu pescoço,
Enquanto lhe beijo a boca.
Seu cabelo descomposto,
Seu peito arfante, a voz rouca...
Bom mesmo é beijar-lhe a nuca,
Sentir-lhe a pele eriçada,
Sentir-lhe a mão no meu rosto,
Querendo mais ser beijada
Querendo mais... Muito mais...
Me achar e se perder.
É isso que eu sei seu moço
Nada mais quero saber.
Sei que a vida é muito curta
A chama logo se apaga
E é preciso ser feliz
Tudo está só por um triz
Futuro é palavra vaga,
Que o presente esmaga e encurta
Por isso há que se viver...
É isso que eu sei, seu moço,
Nada mais quero saber.
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(Rio, fev/2007)
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