Não as palavras que cortam como faca,
Não as frases que separam, qual catraca,
Mas o verbo que consola e ampara, feito maca.
Não os gritos roucos dos desesperados,
Não a afonia inerme dos desamparados,
Mas a voz suave, que acalma e sustenta, qual cajado.
Não o olhar de fogo dos fuzis,
Não o olhar sem brilho do infeliz,
Mas o olhar de paz dos homens gentis.
Não o andar sem rumo, solitário,
Não o andar furtivo do sicário,
Mas o passo acolhedor do missionário.
Não o punho cerrado, da descrença,
Não as mãos enrijecidas da doença,
Mas o abraço que conforta, como bênção.
Não o beijo social, indiferente,
Não o beijo ensandecido da paixão fremente,
Mas o beijo terno, verdadeiro, consciente.
Não a paz dos fracos e vencidos,
Não a paz dos interesses concedidos,
Mas a paz dos homens bons e esclarecidos.
Não o choro das tragédias da cidade,
Não o choro da cruel fatalidade,
Mas o choro sereno da saudade.
Não o riso vão dos carnavais,
Não o escárnio zombeteiro dos rivais,
Mas o riso amigo, compreensivo, dos casais.
Não a raiva cega que enfurece e atordoa,
Não a fúria que a vingança entoa,
Mas a serenidade que abraça e perdoa.
Não o silêncio das vozes caladas,
Não o silêncio das vidas tombadas,
Mas o silêncio da paz alcançada.
Não o bramir dos ventos que a nuvem desfaz,
Não o estampido da armas que matam, mas
O fragor da canção que espalha a paz.
Brasília, março/2007
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