Há tempos não me sento pra escrever nada que mereça uma postagem.
Correria, tempo curto, falta de inspiração, enfim, não vem ao caso.
O caso porém é que outro dia, na sala de espera do dentista, ouvi, sem querer, um diálogo inspirador entre duas respeitáveis matronas. Na verdade, um monólogo. Enquanto a amiga folheava uma revista Veja de 2001, a outra espinafrava sem parar um certo fulaninho, ao que entendi até parente dela mesma. Em resumo, ela tentava convencer a distraída leitora, que o fulaninho, hoje um bom vivant folgado, que não ajuda a ninguém, subiu na vida à custa de métodos não propriamente éticos, aplicando golpes em incautos e incautas por aí.
Mas o que, de fato, me ficou da estoria e me inspirou a registrar a passagem foi a frase final, dita já da porta de entrada do dentista: - Aquilo é um pé-rapado, sem berço, posando de high society.
Na hora me deu um estalo: isso dá samba.
Bem, samba ainda veremos, mas um sonetozinho despretensioso, vá lá.
A quem se aventurar a lê-lo, vou logo avisando: é um soneto com pé, mas sem cabeça.
Chegou num pé-de-vento, ao fim da tarde branda.
Aproveitando o pé-de-briga, se postou atento,
Sondando o pé-direito do convento
E ouvindo o pé-de-bode alegre na varanda.
Rodopiando, feito um pé-de-valsa, entrou no quarto.
De pé-de-cabra em punho abriu o cofre.
Tranquilo, o pé-de-pano nada sofre,
Nem seu pé-de-atleta, nem seu pré-infarto.
Fez pé-de-meia com o investimento,
Fez pé-de-meia com o investimento,
Comprou empresa, barco e pé-de-pato,
Mas com um pé atrás, já que ex-detento.
Por não ser mão-de-vaca, mas sensato,
Não jogou pé-de-moleque ao vento:
É hoje um pé-rapado high society e fino trato.
Salvador, dez/2011
Um comentário:
Muito bom Baianinho! Parabéns e um grande abraço!
Postar um comentário