Disseste que não sabes mais quem sou...
Nem eu, minha querida, tudo bem.
Compreendo esse conflito que te estressa;
Mas, revendo o filme antigo que passou,
Não sou nada meu amor... Sou só alguém
Que hoje abre o coração e te confessa:
Sou o que sou:
- o que vi,
- o que fiz,
- o que sei.
Sou o que vivi:
- o que li,
- o que escrevi,
- o que calei.
Sou a dor das despedidas:
- as saudades,
- as ausências,
- as mãos partidas.
Sou os risos das chegadas:
- os abraços,
- os olhares,
- as mãos crispadas.
Sou as feridas dos meus amores:
- os cortes,
- minhas culpas,
- suas dores.
Sou os prantos que ajudei secar:
- o ombro amigo,
- o silêncio,
- um teto, um lar.
Sou as estradas que andei, inglórias:
- as pessoas,
- as paisagens,
- as histórias.
Sou as cantigas que cantei na rua:
- os poemas,
- as serestas,
- as noites frias, sem lua.
Sou os desenganos dos atalhos:
- vãs paixões,
- amores breves,
- inúteis retalhos.
Sou uma história, enfim, movimentada:
- ora reta,
- ora em círculo,
- nunca parada.
E, assim, cheguei ao que sou:
- nem tudo foi bom,
- nem tudo foi mau,
- mas tudo me ensinou.
Mas, é preciso que agora saibam, todos,
Que eu sempre tive o amor de um anjo,
E esse anjo decretou-me a sensatez,
E eu sou, na verdade, o que esse amor me fez.
Qual produto de celeste arranjo,
De flores e adornos desse amor-criança,
E sob a força motriz do seu perdão,
Hoje já não sou... Agora somos:
- olhos na mesma estrada,
- bocas na mesma oração,
- mãos na mesma esperança.
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