sexta-feira, maio 09, 2008

No avião

Primeiro, a expectativa, a excitação...
Depois, o calafrio, mas não ainda medo,
Algo como um fio de história sem enredo.
Atrai-me o indisfarçável disfarçar da emoção,
Quando a aeronave ganha, enfim, a pista:
Os olhos fingem devorar a moça da revista,
Enquanto os lábios balbuciam a oração.

O assento ao meu lado está vago...
Lembro-me a última viagem juntos.
Lembro-me tudo, as risadas, os assuntos...
E a aeromoça, que não traz um trago!?
A tua ausência dói como um petardo
A perfurar o peito, cruel dardo
De veneno e de saudade... Doce amargo.

Na turbulência, tua ausência é mais doída.
Instintivamente, minha mão procura a tua
Lá fora paira, alva e triste, a lua...
Misteriosa, entre nuvens, escondida.
Onde estás agora? No trânsito!? Em casa!?
Uma rajada quase arranca do avião a asa.
Que frio! Que medo! Como é frágil a vida!

Com grande alívio, vejo as luzes do aeroporto.
O céu clareia... A noite se apresenta calma
De alegre ansiedade se enche minh’alma.
O pouso é firme e em total conforto,
Mas outro vôo começa agora em mim:
Um sonho, um beijo... Ai, boca de alfenim!
Sou marinheiro errante... És meu farol e porto.

Rio, 17/01/2008