quarta-feira, dezembro 15, 2010

Trinta e cinco anos depois

Manter acesa a chama por 35 anos, com o mesmo calor, o mesmo viço, é um fato que, de tão raro, deve ser mostrado aos nossos filhos, netos, amigos, enfim, a quem interessar possa, como prova de que nem tudo está perdido. Existe alguma coisa, de um valor inapreciável, que sobrevive aos modismos, à superficialidade, ao consumismo da época digital que vivemos. Uma força vital extraordinariamente simples e forte, que não se rompe com os anos, nem com a distância. Que se renova a cada abraço, cada olhar, cada palavra, cada mensagem e que rebrota com uma energia inquebrantável a cada despedida.
É a chama de uma geração. A geração que ainda preserva valores analógicos. É a chama de um grupo de jovens que nunca vai envelhecer, porque velhice não está nos planos de quem sonha, dia após dia, com um país melhor, pelo quel empenhamos parte dos nossos anos dourados e pelo qual tanto ainda resta por fazer. Somos de uma geração especial, para quem a luta há de continuar para sempre... Não falo especificamente da luta que roubou parte dos nossos colegas. Falo da luta diuturna, de não entregar os pontos, de não deixar a peteca cair, de seguir em frente sempre. Falo da luta pela vida. É a marca da nossa geração, (re)confirmada a cada encontro.
Um brinde, meus grandes amigos, ao ano que se foi, ao ano que virá, aos anos que nos aguardam! Trinta e cinco anos não foi nada. Um brinde ao Tempo, pelo milagre da eterna juventude estampada na vontade e na responsabilidade de viver, disfarçada estrategicamente em cada fio de cabelo branco, em cada ruga. Mas escandalosamente preservada no brilho dos olhos.
Um grande brinde de saudades, desejos e sonhos.
Eis meus versos, minha arma.

Olhando assim nos rostos, cara a cara

Me vem um misto de ternura e espanto,

Vindos do fundo d’alma, dos refolhos!

Porque vejo ainda acesa, em chama rara,

A juventude que curtimos tanto e tanto

Refletida no imortal brilho dos olhos.


Que importa as rugas do espelho idiota

E a negra cabeleira, outrora vasta,

Agora rala, cor das cinzas na fornalha?

Importa mesmo é o riso aberto que conforta;

É a alegria, é a amizade inteira e casta,

Que construímos pela vida: eterna malha.


Importa mesmo é só revê-los e abraçá-los,

Saber de cada um, ouvir histórias,

E recordar os tempos bons, os velhos planos

E estreitar os laços, reforçá-los,

Na emoção dos causos, quedas e vitórias

No reencontro desses 35 anos.


Sei que amanhã, ao retomar a vida,

Registrarei três coisas nas fotografias:

Ao revê-los, a emoção mais sentida

Ao abraçá-los, a mais sincera alegria

E a saudade mais atroz na despedida

Por isso, um brinde a esse grande dia!


PS: Todos os dias são um grande dia e merecem a honra de serem devidamente brindados,com a garra de quem não desiste nunca. Esse é o segredo. Baianinho. Bsb, dez/2010