quinta-feira, janeiro 29, 2009

Ao anjo da tribo

Disseste que não sabes mais quem sou...

Nem eu, minha querida, tudo bem.

Compreendo esse conflito que te estressa;

Mas, revendo o filme antigo que passou,

Não sou nada meu amor... Sou só alguém

Que hoje abre o coração e te confessa:

 

Sou o que sou:

 - o que vi,

 - o que fiz,

 - o que sei.

 

Sou o que vivi:

 - o que li,

 - o que escrevi,

 - o que calei.

 

Sou a dor das despedidas:

 - as saudades,

 - as ausências,

 - as mãos partidas.

 

Sou os risos das chegadas:

 - os abraços,

 - os olhares,

 - as mãos crispadas.

 

Sou as feridas dos meus amores:

 - os cortes,

 - minhas culpas,

 - suas dores.

 

Sou os prantos que ajudei secar:

 - o ombro amigo,

 - o silêncio,

 - um teto, um lar.

 

Sou as estradas que andei, inglórias:

 - as pessoas,

 - as paisagens,

 - as histórias.

 

Sou as cantigas que cantei na rua:

 - os poemas,

 - as serestas,

 - as noites frias, sem lua.

 

Sou os desenganos dos atalhos:

 - vãs paixões,

 - amores breves,

 - inúteis retalhos.

 

Sou uma história, enfim, movimentada:

 - ora reta,

 - ora em círculo,

 - nunca parada.

 

E, assim, cheguei ao que sou:

 - nem tudo foi bom,

 - nem tudo foi mau,

 - mas tudo me ensinou.

 

Mas, é preciso que agora saibam, todos,

Que eu sempre tive o amor de um anjo,

E esse anjo decretou-me a sensatez,

E eu sou, na verdade, o que esse amor me fez.

Qual produto de celeste arranjo,

De flores e adornos desse amor-criança,

E sob a força motriz do seu perdão,

Hoje já não sou... Agora somos:

 - olhos na mesma estrada,

 - bocas na mesma oração,

 - mãos na mesma esperança.

Jan/2009